sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

025

Buenos Aires, Argentina, 15 de dezembro de 2010

Puerto Madero é um dos lugares turísticos mais famosos de Buenos Aires. O bairro está atrás da Casa Rosada (a sede do governo argentino) às margens do Rio de La Plata. Logo quando chego no local, a imagem dos arredores do rio Tamisa, em Londres, me vem à mente. Guardadas as devidas proporções, são lugares parecidos.

- Nossa! Isso se parece muito com o rio Tamisa! Esses prédios altos e modernos, com esse calçadão na margem do rio...só falta a Tower Bridge! – falo.

- Você ainda não tinha vindo aqui? – pergunta a Táta.

Táta é minha namorada há apenas cinco dias. “Esse vai ser o namoro mais curto da história” ela disse, no momento em que lhe pedi em namoro. Acontece que nós “ficamos” durante uma semana e, no oitavo dia, eu lhe pedi em namoro, consciente de que ela iria voltar pro Brasil em 6 dias, de férias, e quando retornar à Buenos Aires terá que se dedicar aos estudos de Medicina.

- Não, eu nunca vim...

Caminhamos mais um pouco e eu abro um sorriso quando vejo uma embarcação antiga ancorada junto à margem. Tiro uma foto e a Táta fala:

- Vamos tentar entrar?

- Hum, acho que não pode. Ó, o cara ta pregando algum aviso naquela corda que está fechando a entrada.

De fato, pra minha decepção, não podemos entrar. Seguimos caminhando sob um forte sol – que embeleza ainda mais o dia. A gente anda abraçado, e eu acho isso o máximo. A Táta tem uma altura perfeita, a gente se “encaixa” direitinho. A gente pode andar grudado sem que a bunda de um dispute espaço com a perna do outro. Basta a gente acertar a passada pra poder caminhar em harmonia, como duas engrenagens feitas uma para a outra.

- Ó, aqui tem um Museu que funciona dentro de um barco e nesse a gente pode entrar!

- Sério? – não posso conter minha excitação – Vamos então! – eu tenho fascínio por navios. Tenho vontade de trabalhar num Cruzeiro, algum dia, e vontade de comprar um barco – n’algum dia ainda mais distante – pra desbravar os sete mares.

Nós entramos no Museo Fragata Sarmiento e eu fico boquiaberto, jubiloso como uma criança que ganha um presente. A fragata tem porte mediano. De proa a popa tem aproximadamente 85 metros e de largura uns 12, e possui três mastros onde se distribuem 21 velas.

Era utilizada pela Escola Naval Militar argentina para treinamento dos cadetes. De 1899 a 1939 realizou 37 viagens ao redor do mundo, quando esteve nos portos mais importantes do globo.

A Táta e eu andamos pelo convés até chegar na escada que dá acesso aos níveis inferiores. No primeiro subsolo nós vemos as cabinas minúsculas onde se alojavam os marinheiros, que ainda têm a decoração da época.

- Olha – a Táta aponta pela janela – um Diário de Bordo! Eu quero ler!

A Táta, como eu, é fascinada pela leitura.

Seguimos olhando as coisas, e paramos em frente a um mural de fotos. As fotos da Acrópole, em Atenas, me chamam a atenção, e eu mostro pra Táta.

- Êita! Será que eles tiraram essa foto do barco mesmo? É possível? – ela pergunta.

Vejo o close da fotografia e me lembro do dia em que visitei o lugar. Tento me recordar pra que lado estava o mar, sem muito sucesso.

- Mmmmmm, acho que não. Acho que eles estiveram na Acrópole e bateram a foto.

Ainda no primeiro subsolo visitamos o salão onde eram servidas as refeições para os marinheiros a bordo. Neste salão há uma série de lembranças dos lugares visitados pela Fragata, como um pedaço da Grande Muralha da China, expostos em redomas e vitrines.

- Olha! Acho que isso é o mais próximo que eu vou chegar da Grande Muralha – diz a Táta.

- Eu não – falo instantâneamente – eu tenho o sonho de caminhar sobre essa muralha!

Em outra redoma, há uma espécie de certificado concedido aos marinheiros quando estes visitaram a cidade de Nice, no sul da França.

- Olha Táta, eu já estive nessa cidade! O mar daquela praia é o mar mais lindo que eu já vi!

- Por quê?

- A cor é linda! Um Azul-meio-verde indescritível!

Impossível não lembrar dessa viagem e agradecer, mentalmente, ao meu irmão pelo presente incrível que foi conhecer todos esses lugares! Mais do que isso, pela noção que adquiri de que o mundo é algo muito mais palpável do que imaginamos antes de sair do país.

Nós descemos mais um nível e chegamos na sala das máquinas. O cheiro de óleo, tinta e metal me deixa maravilhado. Aqui há algo enorme, que julgo ser o motor. Há outra coisa que não consigo definir – para a Táta, é a fornalha. Pode ser.

Há poucas pessoas nesse nível – na verdade, só eu e a Táta, mais ninguém. Essa privacidade me anima. Puxo a Táta e lhe dou um beijo. Adoro beijar a Táta.

Ficamos um pouco abraçados, nos olhando, e as três palavras quase brotam da minha boca. Me contenho, pois eu sei que isso lhe pareceria das duas uma: ou algo demasiado forçado, ou algo totalmente impensado.

Depois de desbravar e fuçar em cada cantinho onde o acesso nos é permitido, a Táta e eu nos sentamos num banco no convés da Fragata, na popa, perto do leme.

A Táta está simplesmente linda! Ela veste uma blusinha lilás-quase-rosa cuja tonalidade combina perfeitamente com sua pele. O decote é perfeito – mostra o pescoço, o colo e uma parte das costas (os mais lindos que eu já vi, sem dúvida) sem revelar mais nada. Seu sorriso, sempre iluminando seu rosto, faz do sol uma coisa dispensável.

- Hey, eu adorei quando você me deu colo ontem – falo.

- É? Então vem cá, deita aqui.

Deito no colo dela.

- Eu não quero que nosso namoro acabe depois desses sete dias – ela diz.

- Nem eu, Táta, mas eu acho necessário. Um relacionamento pode te atrapalhar muito nos estudos, e eu gosto demais de você pra ser responsável por isso.

O plano, quando começamos a namorar, era ficar juntos por 7 dias, até ela voltar pro Brasil. Depois disso, mesmo quando ela retornar a Buenos Aires, não seríamos mais namorados, para que ela possa se dedicar aos estudos.

- Como você pode gostar de mim e querer me deixar?

- Acho que esse sacrifício é a melhor prova que eu posso te dar, de que gosto de você...

Mesmo falando essas palavras, eu não estou seguro se quero fazer isso. Eu gosto dessa moça, e quero estar com ela. Isso pra mim é um dilema. Por um lado eu sei que um relacionamento pode acabar com os estudos dela – e eu definitivamente não quero isso – mas, por outro, tampouco quero me afastar dela.

- Nossa, namorado. Você tem um coração tão bom...

Essas palavras me pegam de surpresa. Eu não tenho. Eu quero ter, mas ainda me falta muito. Tenho vontade de dizer pra ela que não sou bonzinho, que já fiz muita coisa errada, que já magoei algumas pessoas. Tenho vontade de dizer pra ela que não mereço que ela goste de mim. Mas a única coisa que consigo falar é:

- Não, eu não tenho. Eu me esforço pra ter, mas quem tem um coração bom, de fato, não precisa fazer esforço...

Um comentário:

  1. Sem palavras, namorado!!

    Só sei que este, por enquanto, é o meu favorito do blog!! =)

    s2

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