terça-feira, 28 de dezembro de 2010

021

Buenos Aires, Argentina, 07 de dezembro de 2010

“...o dia tava muito lindo, ensolarado. A praça (um campo aberto e sem árvores) tava lotada de pais e filhos, reunidos para participar da festa. Naquele dia, pais com seus respectivos filhos deveriam competir com outros pais e filhos. Cada um tinha uma pipa, e venceria a dupla dona da última pipa no ar.

O Juan tinha me perguntado, no dia anterior, diversas vezes, se o seu pai iria na festa com ele. Eu não quis dizer ao menino, mas a verdade era que eu desconfiava que seu pai não iria.

O Juan, até hoje, não conhece seu pai. Eu já lhe falei, algumas vezes, que o dia em que ele tiver vontade de conhece-lo, eu irei junto. Mas o menino nunca demonstrou vontade de conhecer o pai – pelo menos não depois daquele dia.

Naquele dia, ele ficou o tempo todo atento procurando por seu pai, enquanto as duplas se preparavam para a festa – cada uma fazendo a própria pipa, o próprio cerol (um preparado de cola e vidro, que se passa na linha para cortar a linha do adversário) e a própria rabiola.

Não tinha como dar certo, minha relação com o pai do Juan. Nós éramos muito jovens quando engravidei. Não tínhamos nem certeza do que iríamos fazer da vida, como poderíamos estar preparados para uma vida a dois – digo, a três? Mas isso tampouco justifica o fato dele nunca ter vindo conhecer o próprio filho!
O único pai que o Juan conhece é o avô. Meu pai o cria como um de seus filhos, e por isso lhe sou muito grata. Meu pai é um homem muito bom. Um tanto rigoroso, é verdade, mas assim mesmo muito bom. É uma pena que não tenha ido – por conta do trabalho – à festa para acompanhar o Juan.

Me partiu o coração notar como o meu filho esperava por seu pai naquele dia. Quando finalmente começou a batalha das pipas, eu fui seu pai. Não duramos muito, pois eu nunca havia empinado uma pipa antes. Assim mesmo, meu filho me deu um abraço apertado e me disse algo que jamais vou esquecer: ‘eu te amo, mamãe’.”

Quando a Noelia termina de falar, as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Por sorte a festa está tão animada – chegaram mais uma dezena de convidados – que os únicos que notam isso são a própria Noelia e o Nego.

- Che, você não precisa chorar. Eu já chorei muito por isso... – ela diz, para me consolar.

- Você é muito forte, eu te admiro! Que vida de merda você teve em alguns momentos, não?

- Y sim, mas já é passado! E quem nunca teve uma vida de merda às vezes?

- Sim, você está certa, mas assim mesmo tua história é muito triste.

Eu adoro ouvir histórias da vida alheia. Acho incrível como cada um tem vivências dignas de se escrever num livro. Me delicio tentando imaginar cada momento, criando cada cena em minha cabeça, pensando em como seria vivenciar todos esses momentos.

Enquanto ouvia a história da Noelia, não pude deixar de lembrar da história da minha avó, que criou seus cinco filhos sozinha, e da história – que em grande parte eu desconheço – do meu pai, que cresceu sem um pai.

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