sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

024

São Paulo, Brasil, Fevereiro de 2010

Foi tudo muito rápido.

Talvez por coincidência – ou talvez fosse a minha forma de ver as coisas naquele momento – o dia estava feio. O céu estava escuro, cheio de nuvens. Garoava. A praça não tinha flores, os pássaros não cantavam e o ruído da avenida à frente era insuportável.

Por mais que eu soubesse que meu casamento tinha acabado, eu voltei da Europa com alguma esperança de recomeçar, de fazer diferente. Ouvir aquilo foi muito, MUITO pior do que eu pensei que seria.

Essa não era a primeira vez que eu me encontrava com a Ná, depois de ter chegado. Na verdade, na noite em que cheguei (no dia 25 de janeiro) eu fui pra casa dos pais dela (onde ela vivia desde o fim do ano anterior, quando desmontamos nossa escola de música) e nós passamos a noite juntos, como marido e mulher.

No dia seguinte, porém, ela me disse que gostaria de se separar; que esse tempo que passamos longe um do outro, enquanto eu estive na Europa, lhe mostrou que ela era capaz de viver sem mim. Eu aceitei, afinal, como minha mãe sempre repete, “ninguém é de ninguém; não podemos obrigar ninguém a ficar do nosso lado”. Ademais, eu também sabia que isso era o melhor a ser feito.

Alguns dias depois nós nos encontramos no Shopping Interlagos (famoso shopping da zona sul de São Paulo) e ela teve uma recaída, quis voltar, mas dessa vez eu segurei a peteca e disse não.

Agora eu estava ali, em meu momento de fraqueza, tentando reconciliar, e dessa vez coube a ela ser forte.

- Acabou, Robson. – ela disse.

Eu chorava. As lágrimas nunca me pareceram tão fortes. Elas irrompiam pelos meus olhos como se tivessem vida própria, eu nada podia fazer além de me entregar e deixar que saíssem até secar.

- Eu não posso deixar você aqui, nesse estado – ela disse.

- Eu vou ficar bem. É melhor você ir, porque eu não tenho forças pra te dar as costas, nesse momento.

Nosso processo de separação foi dolorido para ambos. Tivemos muitas dúvidas em todos os momentos, mas nossa cumplicidade (talvez no ápice de uma vida a dois) nos fez fortes. Nós dividimos o fardo de ser duro frente ao desespero do outro e, assim, pudemos nos libertar um ao outro (e não um do outro). Acho que libertar o outro de algo que lhe faz mal é a melhor prova de amor que existe, mesmo que esse algo seja a própria relação dos dois.

Quando ela subiu no ônibus, eu soube que tinha acabado.

Quando parei de chorar, o vazio me tomou por completo.

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