segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Monte Carlo, Mônaco, 11 de janeiro de 2010

Já no trem a paisagem anunciava o que estava por vir. O quadro em movimento era tão lindo que qualquer descrição é mera formalidade. De qualquer forma... De onde estava sentado era possível observar o mar delimitado pela serra e pelo céu. O sol irradiava luz e vida para todos os lados, mas o calor só era sentido pelos olhos, afinal era inverno no sul da França. O céu limpo era de um azul puro como o próprio reino dos céus, e rivalizava apenas com o azul-verde-marinho da água, onde os barcos deslizavam com a altivez de um monarca (não um monarca francês, certamente).

Estávamos num trem que partira de Nice com destino a Monte Carlo – eu, minha mãe, meu pai, meu irmão e minha irmã (cunhada). Talvez o Luke (sobrinho) já estivesse por ali, ou no meu irmão ou na minha irmã (risos). Eu podia, ao mesmo tempo, sentir saudade da Ná e estar feliz por ela não ter viajado conosco. Estranho.

De cara a cidade mostrou porque é tão famosa: ao sair da estação de trem dei de cara com o mar (lindo). Não demorou para o queixo cair. Caminhando um pouco pela cidade me rendi ao glamour das Ferraris, dos Porsches, Lotus e Lamborghinis distribuídos pelas ruas que, para meu espanto, paravam para atravessarmos as ruas a qualquer momento – não sei se por educação ou puro deleite dos condutores, ao notarem nossa admiração por seus carrões.

Na marina, Iates. Muitos Iates. Grandes, luxuosos, vazios. E muito caros. Os Iates são realmente incríveis, nos faz querer subir a bordo, tocar, fotografar, levar pra casa. Literalmente.

Caminhamos pela praia, boquiabertos. A falta de ar não vinha pelo cansaço (que cansaço? Estou em Mônaco!), mas sim pela beleza do local – se Deus criou o mundo de fato, este lugar ele não fez apenas com palavras, aposto que arregaçou as mangas e o pintou com mais habilidade e intensidade que Da Vinci ou Michelangelo sequer poderiam imaginar.

Foi então que a dúvida ganhou espaço: “será que o Criador perdeu tanto tempo nesta tela que foi obrigado a terminar de qualquer jeito certos lugares como a maioria das nações africanas, ou os países latino-americanos? Mas esses lugares também têm paisagens lindas...” – pensei.

Continuamos nosso passeio seguindo (ou tentando) o traçado do famoso circuito de Fórmula 1. Saímos da orla da praia e começamos a conhecer um pouco da cidade. Com alguns prédios incríveis e outros nem tanto, o luxo e o poder financeiro entravam por nossos poros sem pedir licença. Neste lugar se encontra o metro quadrado mais caro do mundo. Isso não é obra Deus. Não diretamente.

A dúvida persistia: “como podem ser os homens todos iguais, se alguns mal têm para comer, e outros mantêm este paraíso para visitar uma ou duas vezes no ano? Os homens são todos iguais aos olhos de Deus? Aos olhos do homem? Será que é justo eu desejar viver neste lugar quando tantos ‘querem apenas sobreviver’? E será que é justo não querer se alguns o fazem? Não sei.”

A experiência foi incrível. Inesquecível. Inaceitável.

2 comentários:

  1. Porra, Robson! Você é simplesmente genial! Ler esse blog me dá vontade de ler cada vez mais, e conhecer cada vez vc e sua vida. Li tudo de uma vez, e agora vou ter que esperar vc postar de novo.

    Gabriela Luna

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  2. Olá Robson!
    Nesse instante que li a seu texto me senti em Monaco!Revi cada pedacinho de Monte Carlo e a sensação que sentimos ao estar lá. Só estive uma vez, mas creio que o deslumbramente será sempre o mesmo. Quanto a Deus e suas criações não sei explicar ou entender o motivo de cada fato. Mas sei que é um privilegio poder pelo menos conhecer Monte Carlo e sentir toda aquela atmosfera mágica.
    Seu texto dispensa fotos pois você nos transporta para a cena! Viajei junto!
    Parabéns!!
    Beijos

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