sábado, 1 de janeiro de 2011

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Rio de Janeiro, Brasil, 20 de fevereiro de 2010

A madrugada não podia estar mais escura, na BR-101 que liga São Paulo e Rio de Janeiro. Eu e o Nego estávamos indo para Trindade, no Rio, desfrutar nosso último fim de semana antes do reinício das aulas na ETEC de Artes.

Trindade é uma pequena vila litorânea próxima a Paraty (esta também no Rio de Janeiro). Está encravada em meio a um paraíso natural quase selvagem, com mata virgem e praias quase desertas.

No carro, o cd do Ed Motta tocava pela qüinquagésima vez. Nós não ouvíamos mais, tão absortos estávamos em nossa conversa, falando da vida alheia na maior parte do tempo e botando a fofoca em dia. Tem gente que acha mulher fofoqueira, pra esses eu falo: homem é muito mais!

Num determinado momento, porém, eu comecei a falar sobre mim.

- Cara, eu vi aquele filme, “Viagens de Motocicleta”, sabe?

- Hum...pelo nome eu não me lembro...fala de quê?

- É um filme que conta a história do Che e do amigo dele, Alberto Granado, quando os dois resolveram viajar pela América do Sul em cima de uma moto! Eu morro de vontade de fazer isso, seria muito foda!

- Sério? Eu também tenho vontade de fazer isso – disse o Nego. Eu tenho um primo chamado Leandro, e a gente sempre falava de fazer umas coisas assim.

- Pô, agora que eu tô solteiro, a gente bem que poderia fazer isso né? Tipo, sair viajando por aí, tocando e ganhando umas moedas pra comer e dormir!

- É, mas a gente tem que estudar né? A gente não pode largar a ETEC e os conservatórios assim, sem mais nem menos...

Nós estudávamos regência na ETEC de Artes em São Paulo, Piano no Conservatório de Guarulhos e o Nego ainda tinha tempo para estudar flauta no Escola Municipal de Musica, o conservatório musical mais conceituado (e difícil de entrar) de São Paulo.

- É, sei lá. A gente podia terminar a ETEC esse ano, trancar os conservatórios e cair nesse mundão de meu deus... – falei.

A verdade é que eu estava perdendo minhas forças de insistir na carreira musical. Durante as férias na Europa eu fiz um acordo comigo mesmo: “se nesse ano eu não ganhar dinheiro fazendo música, vou desistir dela de vez”.

- É, isso me parece razoável – disse o Nego, pensando com os pés no chão, como sempre - vamos terminar a ETEC e cair no mundo, em 2011!

Um comentário:

  1. Ter asas e ganhar o mundo levado pelo vento...
    Um pouco do mundo você já começou a desbravar.
    Quanto aos sonhos nunca desista deles. Às vezes eles, os sonhos, precisam ser adaptados, mas jamais esquecidos. O sonho é o maior combustivel para viver...

    Sucesso sempre!
    Bjos

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