domingo, 16 de janeiro de 2011

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Bournemouth, Inglaterra, 07 de agosto de 2010

Bournemouth é uma cidade litorânea que fica no sul da Inglaterra, a duas ou três horas de viagem de trem – se não me falha a memória – de Londres. Como a maioria das cidades costeiras, explora o turismo. Na cidade há muitos hotéis e muitas atrações turísticas como parques, parques de diversão, restaurantes e casas de vídeo-jogos.

A idéia daquela viagem foi do meu irmão. Aquele era meu último fim de semana na Inglaterra – mesmo que eu não soubesse, que ainda não estivesse 100% decidido a voltar. Uma semana antes eu havia pedido para meu irmão adiantar minha passagem de volta, e ele o fez remarcando a mesma para o dia 14 de agosto. Assim mesmo, alguns acontecimentos dos últimos dias me deixaram confuso.

Caminhando pela orla da praia, no calçadão, eu via a minha direita um barranco – a cidade está a alguns metros acima do nível do mar – e a minha esquerda o mar (depois de uma larga faixa de areia). O som das ondas quebrando, o cheiro de água salgada, a brisa “quase-gelada” e o céu negro repleto de estrelas me encantavam, como sempre.

Focando na conversa ao meu lado esquerdo eu podia ouvir o Thiago e o meu irmão falando sobre emprego, imposto, salário, qualidade de vida, etc. Focando na conversa à minha frente eu podia escutar a Bru e a Cibele falando sobre gravidez. A Bru já estava com um barrigão considerável.

Eu, porém, não me fixava em nenhuma das conversas – estava conversando comigo mesmo. Pensando. Por um lado, eu tinha alguns motivos para continuar em Londres. Por outro, eu estava infeliz e voltar pro Brasil me faria muito bem – sobretudo para botar em prática uma série de planos que eu havia feito com o Nego.

Nós havíamos jantado e caminhávamos sem rumo pela praia para botar a conversa em dia. Num dado momento os rapazes começaram a falar sobre um assunto inevitável para pessoas que vivem no exterior:

- Vocês pensam em voltar pro Brasil? – perguntou o Thiago.

- Por enquanto não cara...

- O Luke vai nascer aqui, então? – ele perguntava sobre meu sobrinho, que nasceria em poucos meses.

- Sim. A gente prefere que ele nasça por aqui...

Não ouvi o papo todo, ainda pensava em minha própria situação.

Seguimos andando até que um “abençoado” – que eu não lembro quem foi – desse a idéia de sentarmos um pouco, no pequeno degrau entre o calçadão e a areia. Sentamos de frente para o mar, e atrás da gente havia um pequeno parque de diversões repleto desses jogos de tiro ao alvo onde se ganham ursinhos de pelúcia, dessas naves espaciais ou carros de polícia de brinquedo para crianças pequenas entrarem, e toda essa parafernália luminosa.

- E você cara, o que ta achando de morar aqui na Inglaterra? – perguntou-me o Thiago.

- Na verdade, eu acho que vou embora. – respondi.

- Sério? Por quê? Não gostou?

- Eu não me adaptei muito bem, sei lá, foi muita mudança ao mesmo tempo...

- É, eu sei como é. É foda mesmo. A gente fica assim longe de casa, bate uma depressão do caralho às vezes.

- É. No meu caso é ainda pior, porque você tem a Cibele, o Má tem a Bru... Quando um tá mal o outro dá uma força e tals. Eu, por mais que tenha o Má e a Bru, não é a mesma coisa. Quando eu tô sozinho no meu quarto, na pensão, e bate uma depressão dessas, não tem ninguém para me amparar – aí é foda. É fundo do poço.

- É, eu imagino, deve ser difícil mesmo.

- Mas eu não reclamo não. Foi uma coisa importante que eu precisava viver. Aprendi muito cara. Aproveitei esse tempo para pensar na vida, e descobri muita coisa. Descobri muito sobre mim e muitas coisas que culminaram no fim do meu casamento, por exemplo.

Na verdade, o que eu havia descoberto seriam coisas que mudariam minha maneira de encarar a vida dali por diante.

- Que coisas? Quer dizer, se você puder falar, claro...

- Posso sim, não tenho mais problemas em falar sobre isso. Até acho bom. Então, acho que a coisa mais fundamental que eu descobri é que eu – talvez por estar muito focado no trabalho – não cuidava da minha relação.

- Como assim?

- Primeiro: eu não passava muito tempo com a minha ex-esposa. Eu achava que o fato de estarem os dois na sala, um vendo TV e o outro usando o computador, ou um lendo um livro e o outro jogando vídeo-game, era passar tempo juntos.

- E não é?

- A, sei lá, eu acho que não cara. Passar tempo junto é fazer alguma coisa onde haja interação entre os dois. Eu sempre conversava muito com a Ná antes do casamento. Depois, essas conversas ficaram muito raras e geralmente se limitavam a coisas corriqueiras – e estressantes – como contas a pagar ou casa desarrumada.

Esse, aliás, é outro ponto importante. Usar um pouco do tempo para cozinhar ou limpar a casa é importante – mais do que fazer hora extra para pagar uma viagem ou mesmo para pagar alguém para fazer o serviço de casa. Cozinhar com carinho, ajeitar a própria casa com carinho estimula e reaviva o amor entre o casal. Faz renascer essa vontade que um tinha de cuidar do outro.

Pelo menos no meu caso essas coisas faziam falta, e foram tão determinantes quanto o fato da gente nunca ter planejado nossa vida a dois – começar como nós começamos, por exemplo, morando num quarto-e-cozinha com um salário de R$ 500,00 até que foi romântico, mas foi um equívoco.

- Entendo...mas e aí, você já tá divorciado no papel e tudo?

- Ainda não. Mas a gente vai fazer isso quando eu voltar.

- Você não acha que pode ter volta, o casamento?

- A, sei lá. Eu até voltaria com ela, mas acho muito difícil. Eu tenho me dado conta de muitos erros que cometi, e tenho tentado melhorar nesses aspectos. Ainda não me parece que ela tenha se dado conta dos próprios equívocos, e isso me deixa triste – em parte porque não podemos reatar, se for para viver os mesmos problemas, e em parte porque tenho receio que ela cometa os mesmos erros numa relação futura.

- Entendo...

***

Voltei pra Londres dessa viagem resoluto: iria voltar pro Brasil.

Depois de três meses, eu já me considerava pronto para voltar. Apesar de não haver conseguido fazer o trabalho que meu irmão me deu, ou de não ter feito amigos, ou de ao menos ter aprendido um pouco de inglês, eu não me sentia fracassado. Aprendi muitas outras coisas naquele período.

2 comentários:

  1. robson adoro os seus textos, mais o que acha de publicar fotos também?

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  2. Caramba!
    Como são as coisas né?
    Não sei como vim parar neste blog, mas li este post todo e me imaginei em cada sena do cenário que você criou, me deu até vontade de escrever também, mas me dei conta de que tem que ter coragem de se expor, fora que não sou muito bom pra escrever :(

    Robson
    Parabéns !!

    Não conhecia esse seu lado escritor rss
    Abraço !

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