sábado, 22 de janeiro de 2011

035

São Paulo, Brasil.

Sim, aquelas sacolas estavam muito pesadas. É claro que hoje estariam leves, mas naquela época eu ainda era uma criança e por isso digo que estavam pesadas. De qualquer maneira, as levava sem reclamar.

- Ei, me dá umas sacolas aqui – disse o Má.

- Não, pode deixar. – respondi.

- Mas isso tá pesado, me dá uma! – ele insistiu.

Meu mano sempre foi assim. Do jeito dele, sempre esteve ao meu lado fazendo o que pode para aliviar o peso do meu fardo, seja ele qual for.

- Não, é sério, pode deixar...

Não sei dizer qual é a distância entre o supermercado e o apartamento onde morávamos naquela época – ainda que tenha percorrido aquele trajeto inúmeras vezes. O que posso dizer é que nos tomava, no mínimo, vinte minutos de caminhada.

Vinte minutos caminhando com sacolas pesadas era uma grande provação pra mim, mesmo que fosse uma noite agradável, nem muito fria nem muito quente, como geralmente eram as noites que minha mãe nos chamava para ir ao supermercado fazer compras – e carregar sacolas.

- Meu, não precisa ser orgulhoso. Pode me dar uma sacola!

- Não é orgulho. Eu quero levar essas sacolas pra ficar mais forte...

- Mais forte? Hehehe...Então ta...

Talvez eu estivesse mesmo agindo por orgulho. Eu ainda acredito que não, mas descobri que muitas das nossas convicções estão equivocadas, mesmo que nos pareçam corretas. Talvez por isso Nietzsche dizia que o melhor é não ser uma pessoa convicta – ou algo próximo disso. Ando tentando não ter convicções.

Nunca soube o porque disso, mas desde aquela época eu gosto de fazer essas coisas, de me testar, me levar ao limite.

Aquelas sacolas não são mais um peso, uma provação para mim. Isso, porém, não quer dizer muita coisa. É impressionante como a gente nota, às vezes, que nunca é forte o suficiente. Por mais que a gente cresça, parece que só o fazemos para entender que somos muito menores do que gostaríamos.

Bem, eu sou pequeno.

Cheguei em casa, depositei as sacolas no chão da cozinha e fui correndo – com as mãos ainda marcadas pelas sacolas – me juntar ao meu pai que jogava Elifoot 98 (aquele joguinho de computador, onde você é o técnico de uma equipe de futebol) na sala.

2 comentários:

  1. Verdade... a única certeza na vida é a sua incerteza!

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  2. A única certeza que temos é a certeza da incerteza.
    MarceloPai

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