quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Buenos Aires, Argentina, 01 de janeiro de 2011

O Buquebus é um barco muito bonito. Por fora parece uma miniatura de um desses navios enormes de cruzeiro marítimo. A cor predominante é o branco, mas possui alguns traços de azul também. A embarcação tem quatro pisos.

O primeiro mede aproximadamente 170 por 60 metros e leva os carros de alguns passageiros; esse andar se parece com o estacionamento coberto de um shopping center – na verdade o barco me parece um misto de shopping center com avião.

O segundo mede aproximadamente 160 por 60 metros e, na parte onde o acesso é permito aos passageiros, há um pátio enorme que se assemelha com uma praça de alimentação – como num shopping – onde se encontram algumas máquinas de caça-níqueis, umas mesinhas com cadeiras e uma loja com aspecto de livraria, mas que na verdade é um freeshop.

O terceiro mede aproximadamente 150 por 60. Esse se parece com um enorme corredor de shopping center – há, inclusive, um foço onde se pode olhar para o piso abaixo – e nesse corredor estão as poltronas onde acomodam-se os passageiros da classe econômica, iguais as de um avião. Nesse andar existe, numa das extremidades, uma lanchonete; na outra, a classe que está entre a econômica e a primeira.

O quarto mede aproximadamente 140 por 60. Aqui é o convés da embarcação (aqui está a primeira classe, numa nave toda especial construída no ponto mais alto do barco). Impossível não lembrar do Titanic de James Cameron dando uma volta pelos bancos espalhados entre postes de luz, que desafiam a noite que reina soberana no Rio de La Plata.

Nós, o Nego, o Leo e eu, estamos sentados no chão do convés, maravilhados. É nossa primeira viagem de barco, assim como nossa primeira viagem juntos também. Estamos observando o céu estrelado, com o vento soprando forte no rosto. A sensação de liberdade é indescritível.

Tiro o violão da capa e começamos a tocar. Em pouco tempo noto que há mais dois grupos que se animam, pegam seus violões e começam a tocar também. Devido ao ruído do braço, somado ao ruído do vento, somado ao ruído de nossa própria cantoria, não posso ouvir o que eles estão tocando.

Cansados, voltamos para o terceiro piso e nos acomodamos numa das mesinhas próximas à lanchonete, do lado de uma das janelas que formam as paredes do barco. Conversamos um pouco até que o Leo e o Nego começam a dar sinais de cansaço e se render ao sono.

Pego meu caderno, minha caneta e volto para o convés. Impossível não aproveitar esse cenário para escrever algo. A Táta sempre me perguntava como ela iria aparecer no Blog – isso me deixou um pouco nervoso. Estive pensando numa forma de escrever o que se passou com a gente à altura da expectativa dela. Agora, olhando para o céu, me recordo que ela gosta muito da Lua. Acho que tive uma boa inspiração.

Termino o texto, mas não fico satisfeito. O problema não é o texto, que julgo estar fiel aos fatos e poético o suficiente para tentar descrever o que foi aquela noite para mim. O problema é o mesmo que me atormenta desde o início – não consigo tirar da cabeça que esse relacionamento não pode ir adiante.

Começo a sentir frio – a madrugada chegou e trouxe consigo uma queda brusca de temperatura – e resolvo descer para o terceiro piso e tentar dormir um pouco nesta última das três horas (previstas) de viagem.

Um comentário:

  1. Olá Robson: Cada momento, cada cena, cada sentimento que você descreve eu sinto. Eu vejo. Até o frio que você começou a sentir eu senti.
    Você tem um dom, um talento raro nos escritores que é o de nos transportar no tempo e viver o momento.
    Seus textos me emocionam e encantam.
    Parabéns! Escritor!

    Bjos

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