sexta-feira, 11 de março de 2011

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Montevidéu, Uruguai, 10 de janeiro de 2011

A praça fica próxima à famosa rua de pedestres chamada Sarandi.

A rua é destino quase que obrigatório para todos os turistas que vêm a Montevidéu, talvez por cruzar o bairro da Cidade Velha quase de ponta a ponta – na (única) parte bonita do bairro, óbvio – ou talvez por estar repleta de restaurantes e vendedores ambulantes de artesanatos e afins.

A praça é linda: um vasto campo gramado cortado aqui e ali por alguns caminhozinhos de saibro, repleto de árvores enormes que proporcionam uma sobra muito agradável, e bancos de madeira localizados estrategicamente abaixo destas, para que o sol não agrida aqueles que procuram um momento de descanso. Pássaros cantam em algum lugar acima de nossas cabeças melodias cruzadas, porém lindas e alegres. Pombos andam pra lá e pra cá à procura de alguma alma caridosa que possa lhes dar um pedaço de pão.

Enquanto esperamos a Anni – que precisava terminar uns afazeres antes de poder caminhar um pouco conosco – eu e o Nego conversamos, entre uma música e outra que eu toco no violão e ele canta.

- O povo lá em casa sempre fala que eu tenho muita sorte... – diz o Nego.

- Por quê?

- Porque eu sempre consigo as coisas que quero, ou que preciso.

- Eu também já ouvi da minha família que tenho muita sorte, ou que tenho o “rabo virado pra lua”. Mas quer saber? Eu acredito que essa nossa sorte vem do fato de a gente estar sempre ajudando as pessoas ao nosso redor...

- Verdade! Na igreja eu aprendi que isso é a lei da semeadura. O que você faz aqui, ou seja, o que você planta, é exatamente o que você colhe, o que volta pra você depois. Sendo assim, se a gente tem sorte de encontrar pessoas pra nos ajudar, é porque a gente tem ajudado muitas pessoas...

- Eu também acredito nisso. Eu li num livro da Seicho-No-Ie (uma religião) que essa é a lei da causalidade, ou seja, lei de causa e efeito. Toda ação tem uma reação igual e contrária – acho que já ouvi isso até em aula de física. Isso quer dizer que as coisas que acontecem em nossa vida são um reflexo de nossas atitudes. No fim as religiões querem dizer a mesma coisa, né?

- Verdade...

- Acho que é por isso que tanta gente, tantos pensadores, tantos filósofos sempre falaram que o segredo está dentro da gente. Tudo começa dentro da gente. Se a gente está infeliz, se está atraindo situações infelizes pra nossa vida, é porque estamos agindo de maneira propícia a isso. Se queremos atrair coisas boas, devemos praticar o bem. Claro que essa prática deve ser feita de maneira espontânea e sem interesse. Não acho que tenha o mesmo valor se a pessoa pensar: “vou fazer bem ao fulano pra receber coisas boas de ciclano”. Acho que intenção influencia bastante. Nesse caso que citei, a pessoa acabará atraindo pessoas interesseiras, e não coisas boas...

- Nossa, a igreja ta cheia de pessoas assim, interesseiras, que nunca praticam o evangelho, e quando o fazem sempre visam alguma coisa em troca...

- Pois é, eu não entendia essa e outras atitudes dos crentes até aquele dia que a gente conversou naquele sítio, em Salesópolis (interior de São Paulo, Brasil)...

Nesse momento eu vejo os olhos azuis da Anni se aproximando. Dessa vez, porém, o sorriso dela irradia uma luz comparável à luz de seus olhos. Paro de falar com o Nego no mesmo instante. Acho que paro de respirar também. Na verdade, acho que o mundo todo está parado, acompanhando ela caminhar até a gente...

2 comentários:

  1. Quando fazemos algo bom para alguém a primeira pessoa a ser beneficiada com isso somos nós mesmos. É uma sensação tão boa sentirmos a felicidade dou outro. Perceber que de alguma forma fizemos o bem. E o retorno existe mesmo. Eu sou feliz em fazer alguém feliz.
    O caminho da felicidade e de realizar sonhos está dentro de nós, mas às vezes tememos seguir esse caminho...

    Sempre envolventes os seus textos. Aprendo muito com eles...

    Beijos
    Patty

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  2. Meu caro Lobsman o seu texto se enquadra perfeitamente com minha forma de pensar y atuar, essa é uma da minhas filosofias de vida.Acredito muito na lei do "Retorno" nao so acredito como sou fiel a ela.Tambem sei que as praticas de sadomasoquimos nao levam as pessoas a lugar algum.beijos.

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