segunda-feira, 28 de março de 2011

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Algum ponto entre Montevidéu e Colonia del Sacramento, Uruguai, 18 de janeiro de 2011

Sentado no assento da janela, observando toda aquela paisagem pela primeira vez (por estar acordado neste trajeto também pela primeira vez), eu vou pensando nos acontecimentos dos últimos dias. Um ciclo está encerrando – um ciclo que, apesar de bastante longo, chega ao fim.

“Não é preciso viver mal porque muitas pessoas vivem mal. Não é preciso viver triste porque muitas pessoas vivem triste. A Ná me disse isso uma vez, repetindo as palavras do Masaharu Taniguchi (fundador da Seicho-No-Ie). Eu mesmo li palavras semelhantes nos “Segredos da Mente Milionária” de T.Harv Eker. Mas, como tudo em minha vida, eu tive que viver na própria pele uma situação de extrema pobreza (e que não foi, nem de longe, a mais extrema possível) para entender o significado dessas palavras. Não é enfiado num buraco em Montevidéu que eu vou poder fazer algo decente da minha vida...” – penso.

Do lado de fora da janela, os campos verdinhos vão passando sem passar – nada muda, e parece não ter fim. No meu fone de ouvido, a canção “Al otro lado del Río” de Jorge Drexler vai repetindo pela enésima vez – uma trilha sonora perfeita para o momento, sem dúvida.

“Interessante como as pessoas nunca aparecem por acaso. Mesmo numa simples viagem como essa primeira que fizemos ao Uruguai. Nela conheci a Anni e, com certeza, fomos muito importantes na vida um do outro, apesar do pouco tempo que tivemos. Espero que a tenha ajudado, de alguma forma, a encontrar ao menos um pouco do amor incondicional que ela busca nessa vida. De minha parte, sou muito grato à ela por me ensinar com sua experiência de vida – mesmo os pequenos detalhes são importantíssimos! Nunca tinha pensado em trabalhar num Hostel, e isso parece perfeito nesse momento. Vou procurar emprego num Hostel quando chegar.

A Flori também, com algumas conversas por MSN, me ajudou bastante nessas duas semanas (tristes) de Uruguai, nesta segunda viagem. Sobretudo pelo apoio e pelas opiniões precisas. Ela acha que, se eu sinto que devo estudar, que o faça assim que voltar; que eu devo escolher uma carreira que me deixe feliz, e não uma que me dê dinheiro, uma vez que não é o acúmulo de dinheiro que vai me fazer feliz. E o mais importante: quando lhe perguntei se ela estava ciente que eu vou recomeçar minha vida do zero em Buenos Aires, sem emprego, sem estudo e sem dinheiro, ela disse que sim, e que assim mesmo queria estar comigo nesse processo. Ela é uma moça encantadora.”

Do meu lado, pra minha surpresa, o Nego não está dormindo. Talvez ele também tenha muitas coisas na cabeça, depois dessa curta temporada de pobreza, tristeza e incerteza – palavras que rimam mas que não montam uma boa poesia...

“Difícil vai ser quando a Táta voltar a Buenos Aires também. Isso é meio confuso. Anni, Flori. Táta. Ela não sai da minha cabeça mesmo com todos esses acontecimentos. Talvez eu não seja assim tão capaz de controlar meus sentimentos, mesmo buscando outros estímulos. Essa é uma busca interessante – domar-se. Eu acho que esse é um passo importante para o ser humano e, a julgar pela dificuldade, o prêmio por essa conquista deve ser incrível.”

Nosso ônibus finalmente chega ao terminal. Pegamos nossas coisas e vamos para a área de compra de passagens e embarque da Buquebus – empresa que faz a travessia de barco entre Colonia del Sacramento e Buenos Aires. Por sorte, conseguimos a passagem para duas horas.

Fazemos o check-in, passamos pela imigração e sentamos na sala de espera. A vista do sol se pondo num rio alaranjado como o céu é perfeita para o momento. Acima de tudo, Deus é um artista.

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