Buenos Aires, Argentina, 20 de janeiro de 2010.
Acordo cansado.
“Espero que a noite do Nego tenha sido melhor que a minha” – penso.
Vou até o quarto do Nego, pego as coisas de banho que ficaram na mochila dele e vou ao banheiro. Tomo uma ducha de água gelada rapidamente, volto pro quarto e me visto. Pego meu computador e vou pra sala de estar do hostel que, para minha surpresa, é muito limpa, agradável, completamente diferente do banheiro e dos quartos. Este apartamento é como a maioria dos apartamentos que eu já visitei
- Você sabe qual a rede wi-fi daqui? – pergunto ao Nego.
- Sim, tem o mesmo nome do hostel, e não tem senha. – ele responde.
Conecto-me à rede e começo a buscar um lugar pra gente ficar,
- Nego, a gente não pode demorar muito aqui, nossa diária venceu meio-dia, e agora faltam quinze para a uma. – diz o Nego.
- Tá, eu já consegui alguns lugares pra gente visitar. – respondo.
Pegamos nossas bagagens e saímos. Vamos ao Locutório onde eu ligo para o primeiro anúncio, aquele que estava nos “meus favoritos”. O dono da pensão é muito simpático, e marca uma visita pra gente em meia hora. De metrô, nós vamos ao local que fica no bairro de “Constitución” – um dos lugares mais feios da cidade.
- Barra pesada esse lugar né? – comento com Nego.
- Sim... – ele fala.
Chegamos no local e, “novidade”, o prédio é antigo. Por fora, é feio. Tem uma coloração “cinza-cimento-cru” que quase esconde a sujeira acumulada pelos anos. O portão de ferro também está maltratado, enferrujado. Toco a campainha e falo com o dono da pensão, que logo vem abrir o portão pra nós entrarmos.
O hall de entrada mostra que o prédio está “esquecido” também por dentro. Ainda que as janelas sejam grandes e numerosas, a luz natural não é suficiente para iluminar muito bem o lugar – talvez pelo excesso de sujeira em simbiose com o vidro. Não há elevador, então vamos vencendo lentamente os degraus que separam o térreo do terceiro andar, onde fica a pensão.
“Parece que também não foi dessa vez que a gente encontrou nosso lugar” – penso, num misto de decepção e preocupação.
Ao entrar no (enorme) apartamento, porém, minha impressão do local muda da água pro vinho. É tudo muito limpo, organizado, agradável. O Sr. Henrique nos mostra o quarto onde há duas camas vagas, a cozinha e os banheiros. Fico satisfeito. Troco poucas palavras com o Nego, baixinho, e vejo que ele também aprova o local. Fechamos negócio.
***
Já é noite. Antes de dormir, eu vejo meus e-mails e mensagens do Facebook quando recebo uma notícia que me pega de surpresa e me deixa incrédulo.
- Nego – digo – acabei de receber uma mensagem da Giuli, a peruana que a gente conheceu em Montevidéu, lembra?
- Sim, lembro! O que houve? – ele fala.
- A Anni morreu.
***
Sem conseguir dormir, eu entro no Facebook da Anni e vejo algumas fotos dela. Ainda não consegui digerir muito bem a notícia da morte. Foi muito de repente. Ela era muito nova e, ao que parece, tinha saúde muito boa. “Como teria sido, se a gente não tivesse parado de se ver? Como teria sido se eu ainda estivesse em Montevidéu? Como será que eu reagiria a tudo isso?” – penso.
Olhando pra’queles olhos azuis quase tão intensos na foto como eram ao vivo, é impossível não lembrar das conversas que a gente tinha naquelas noites de vento em Montevidéu. “Meu sonho é aprender a amar as pessoas incondicionalmente” disse ela, certa vez. Ao lembrar dessas palavras, lágrimas brotam dos meus olhos e começam a escorrer pelo meu rosto, enquanto eu acaricio o dela, na tela do computador. “Será que eu pude ajudá-la com isso?” – penso.
Nesse momento, uma paz me preenche. Um abraço me conforta e me aquece – um abraço que não existe senão em meu pensamento. De alguma forma, posso sentir que ela está bem. Como naqueles dias raros, ensolarados e chuvosos, meu sorriso e minhas lágrimas me dizem que sim, há um tesouro no final do arco-íris.
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