sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

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Montevidéu, Uruguai, 03 de janeiro de 2011

Ouço o Nego me chamando e desperto. Dormi muito bem, apesar de dormir tão pouco – cerca de duas horas. Meu corpo protesta, mas assim mesmo eu me levanto da confortável poltrona do ônibus de viagem, pego meu violão e desço do coletivo no terminal improvisado em frente ao Estádio Centenário, este último famoso por sediar jogos da Copa Libertadores da América, um tradicional torneio de futebol da América Latina.

Depois de alguns minutos caminhando na rodovia pela manhã, a gente resolveu pegar um ônibus para Montevidéu nessas paradas de beira de estrada – a gente simplesmente não agüentaria fazer todo o percurso andando e pedindo carona.

- Che, eu quero tirar foto em frente ao estádio! – falo.

Caminhamos até a entrada principal do estádio e ali tiramos algumas fotos. Depois disso, pegamos um ônibus municipal até o terminal rodoviário Tres Cruces, o principal da cidade, para sacar algum dinheiro e resolver o que fazer.

O terminal Três Cruces é um típico terminal rodoviário de cidade grande, apinhado de gente chegando e partindo dia e noite. É dividido em dois pisos; no andar térreo se encontram as empresas de ônibus e agências de viagem, as salas de espera, algumas lanchonetes e pequenas lojas de “souvenirs”. No primeiro andar estão as lojas maiores que vendem roupas e artigos eletrônicos, e os restaurantes.

- Acho que vou perguntar pra’quelas moças ali se elas sabem algum lugar pra gente ficar. – diz o Nego, depois que a gente passa no caixa eletrônico.

- Beleza, vai lá com o Leo que eu fico aqui com as coisas. – respondo.

- Ê Nego, ta correndo da mulherada mesmo hein? Hahaha! – ele fala.

Alguns segundos depois eles voltam com a valiosa informação:

- Elas falaram que a gente acha Hostel baratinho pra ficar na Cidade Velha. Pra ir pra lá, a gente pode pegar qualquer ônibus aqui fora do terminal – diz o Nego.

- Jóia, então vamos pra lá! – falo.

- Che, não seria bom a gente comprar alguma coisa pra comer? – pergunta o Leo.

- Pode ser. Mas pelo amor de Deus, não vamos comprar panetone de novo! – falo.

- Hahahaha! Eu também não agüento mais comer panetone – diz o Leo.

- Nem eu – concorda o Nego.

Caminhamos até o supermercado, compramos salgadinhos, bolachas e suco. Logo depois, pegamos um ônibus para Cidade Velha. O valor da passagem – dezessete pesos uruguaios – assusta, mesmo sabendo que a moeda uruguaia é desvalorizada em relação à moeda argentina.

Cidade Velha é um bairro antigo de Montevidéu, que fica na margem do rio de La Plata. A cidade começou aqui, como denunciam os antigos edifícios da era colonial. Nessa época, inclusive, a cidade era rodeada por uma muralha, hoje inexistente.

Montevidéu foi fundada pelo governo de Buenos Aires, que andava preocupado em fortalecer sua presença na região. Anos depois, a cidade se tornaria a capital de um novo país, a República Oriental do Uruguai.

Viajar assim, a esmo, sem planos, sem ao menos ter onde ficar, é uma experiência realmente incrível. Apesar de todas as adversidades, eu estou tranqüilo. Eu simplesmente sei que tudo vai dar certo, e que nós vamos fazer exatamente aquilo que devemos fazer.

Ainda não sei se acredito no destino ou no acaso. De qualquer maneira, isso não importa muito. Seja como for, nossa vida se move de maneira muito sábia. As coisas que acontecem sempre encontram um propósito, e esse propósito é sempre bom. Dificilmente enxergamos isso em nosso cotidiano comum e rotineiro. Mas isso fica bem claro quando abrimos mão do controle e simplesmente caminhamos ao sabor da correnteza.

- Vamos entrar aqui pra perguntar o preço? – pergunta o Nego.

- Vamos sim! – responde o Leo.

Esse é o terceiro lugar que entramos pra pedir informação. É também o mais barato, por isso ficamos. Como ainda é cedo para fazer o check-in, nós deixamos a bagagem na recepção e saímos para dar uma volta pelo bairro.

- Eu quero ir para a praia! – diz o Leo.

- Tudo bem. Eu tô vendo o rio daqui, vamos lá – falo.

Caminhamos até o rio, mas nesse ponto não há praia, apenas uma avenida na margem do rio, acima do nível deste, e por isso nem nenhum acesso ao mesmo. Sentados num ponto do calçadão e ficamos ali, contemplando o mundaréu de água e o céu azul e ensolarado.

***

Depois de fazer o check-in e de dormir um pouco, a gente resolve sair pra comer alguma coisa. Eu sou o primeiro a terminar de tomar banho e se vestir, por isso pego meu livro e vou para a sala de estar do Hostel. Me sento no sofá encostado na parede do lado oposto da porta de acesso ao cômodo, à partir da cozinha/refeitório.

Lendo o livro mas sempre atento ao movimento, eu levanto os olhos para ver o que acontece no ambiente quando meu olhar cruza com o mais belo par de olhos azuis que eu já vi na minha vida. Eles, no entando, rapidamente fogem dos meus. Volto a ler meu livro.

- Che, vamos? – pergunta o Leo, ao aparecer na porta da sala.

- Sim – respondo – vou guardar o livro e já desço.

Saio da sala, passo pela cozinha/refeitório e, ao passar pela recepção, vejo novamente a dona daqueles lindos olhos. Seus rosto – e todo o resto – está à altura. A moça é linda. Mais um encontro fugaz de olhares.

Sigo meu caminho, subo a escada, guardo meu livro, desço e saímos.

- Eu tava falando com a moça da recepção, ela é do Peru também! – fala o Leo.

- Aquela loira, de olhos azuis? – pergunto.

- Não, a outra, uma morena. – ele responde.

- Hum, essa eu não vi... – falo.

- Eu perguntei pra ela onde a gente pode encontrar o tal do Chivito, e ela falou que andando aí pela avenida 18 de julho a gente acha! – diz o Leo. Ele andou perguntando sobre uma comida típica do Uruguai, descobriu que o Chivito é quase um símbolo nacional, e ficou com vontade de comê-lo.

A noite está muito agradável, com uma brisa fresca soprando. A gente vai caminhando pela avenida 18 de julho, até achar um restaurante. Entramos e saímos na mesma hora: o tal do Chivito é caro pro nosso bolso. Andamos mais um pouco e resolvemos comer um sanduíche - que segundo o atendente é um Chivito com outro nome – num trailer-lanchonete, parado numa praça.

Nunca comi um sanduíche tão bom. Também nunca tinha comido tão mal por tanto tempo, antes desse sanduíche. Acho que isso influenciou meu julgamento, de certa forma...

Um comentário:

  1. Olá Robson! Eu estava com saudades dos seus textos e das suas aventuras!
    Caramba! Quanta experiencia de vida você está adquirindo em cada fase que está vivendo!
    É pé na estrada mesmo. Levado pelo vento...
    Como sempre me sinto participando da aventura!
    Ótimo!
    Quero mais!
    Beijos

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